Com a cosmopolita cidade de Nova Iorque como pano de fundo, a família Manford refugia-se nas mais variadas formas de evasão para fugir ao tédio e ao vazio das suas vidas privilegiadas. No mundo da alta-sociedade a que pertencem, abundam o sexo, as drogas, a ânsia por dinheiro e poder, a atracção pelo oculto e pela espiritualidade new age. Nona é a filha mais nova e com apenas 19 anos ambiciona mais do que a busca de prazer imediato adoptada pela maioria dos jovens da sua idade. Numa época cuja prioridade é dada a relacionamentos superficiais, ela procura uma existência com sentido, algo que partilha com o meio-irmão, Jim. Mas a mãe de ambos, Pauline, tem da vida uma visão bastante mais utilitária e hedonista. A sua obsessão com as aparências vai forçá-los a assumir posições extremas e ditar irremediavelmente o futuro de todos.
Sono Crepuscular poderia ter sido escrito no século XXI e ter como protagonistas os membros de uma família moderna. Mas, na verdade, a grande senhora das letras americanas, Edith Wharton, escreveu-o no início do século passado e retratou os loucos anos vinte em toda a sua duplicidade: a sensualidade dos clubes de jazz, a elegância permissiva da vida social, mas também o vazio das vidas vividas a curto prazo, a falta de horizontes, a futilidade e os excessos de uma juventude desalentada. Assistimos ao cair do pano sobre o palco da Nova Iorque dos antigos valores, à medida que as artes e o cinema se impõem e dão início a todo um fantástico mundo novo, neste que será sempre um dos grandes “clássicos” sobre a alta sociedade do início do século XX e a derrocada dos seus valores tradicionais.
o livro do riso e do esquecimento