Aqui há tempos, num festival de escritores, o apresentador de um programa cultural da TV andava a angariar escritores e editores para dizerem, em mais ou menos meio minuto, qualquer coisa de jeito sobre um dos livros da sua vida. Ali à pressa, ocorreu-me em primeiro lugar O Amante, de Marguerite Duras, romance que li à saída da universidade, com o francês muito fresco e um fraquinho pela literatura francesa. Não era o primeiro livro de Duras que lia (estreara-me, efectivamente, com Moderato Cantabile, de que foi feito um filme com Jeanne Moreau, mas não vi), que me fora emprestado por um professor, depois de lhe ter dito que estava a gostar muito de O Silêncio, de Teolinda Gersão. Mas O Amante era uma leitura tão diferente, tão sedutora, tão refinada e com uma maldade tão irresistível que acho que mudou de certa forma a minha maneira de gostar de livros. Depois de um período de carência, o romance de Duras está de novo disponível no mercado português, agora editado pela ASA, na sua colecção Vintage. E, embora conheça alguns leitores que não se conseguiram afeiçoar à escrita da grande senhora francesa, tenho de aconselhar esta maravilha a todos os que ainda não a leram, porque, se gostarem, vão gostar muito, estou certa, e querer navegar em toda a magnífica obra (tantos livros tão bons) que espero venha a ser retomada pela chancela que referi. Até eu, que não costumo ter tempo para reler livros, estou a considerar a possibilidade de o fazer. Uma belíssima história de amor entre um par incompatível, este romance valeu a Duras o Prémio Goncourt, o mais importante galardão literário de França.
Retirado do blogue Horas Extraordiárias, de Maria do Rosário Pedreira.
– O passatempo decorre até dia 3 de julho
– Só é permitida uma participação por pessoa, morada e e-mail
– Só são aceites participações de residentes em Portugal Continental e Ilhas
– Participações com respostas incorretas ou dados incompletos serão eliminadas
– O vencedor será sorteado aleatoriamente entre todas as participações corretas e completas, sendo posteriormente contactado pela ASA
– A ASA não se responsabiliza por qualquer extravio nos correios
Muito cedo na minha vida foi tarde de mais
Saigão, anos 30. Uma bela jovem francesa conhece o elegante filho de um negociante chinês. Deste encontro nasce uma paixão. Ela tem quinze anos e é pobre. Ele tem vinte e sete e é rico. Os amantes, isolados num mundo privado de erotismo e autodescoberta, desafiam as convenções da sociedade.
Enquanto ela desperta para a possibilidade de traçar o seu próprio caminho no mundo, para o seu amante não há fuga possível. A separação é inevitável e tragicamente cadenciada pelos últimos acordes da presença colonial francesa a Oriente.
A jovem é a própria autora e este é o relato exacerbado de uma paixão inquieta e dilacerante. De tão etérea, a sua realidade gravar-lhe-ia no rosto marcas implacáveis de maturidade. Para o mundo, fica uma obra que contém toda a vida.
Obra intemporal, relato de um mundo perdido, O Amante foi vencedor do prestigiado Prémio Goncourt, em 1984, e confirmou o génio literário de Marguerite Duras, nome cimeiro da literatura mundial.
“Estimulante, sensual, melancólico, real, moderno e feminino… A obra-prima de Marguerite Duras.”
The Independent
“Poderoso, autêntico… Perfeito.”
The New York Times
“Um romance impecavelmente bem escrito.”
The Spectator
“Maravilhoso, inteligente, agradável e original.”
The Sunday Times
“Um espetacular sucesso.”
Edmund White
“Uma obra que contém toda a vida… Visões de amor e ódio que nunca tinha lido antes. Como pode algo tão etéreo ser muito mais do que real? Suponho que isto seja a marca do génio literário.”
Fay Weldon
“Asas e livres, económicas e implícitas, belas, belas, belas, belas. Espantosa simplicidade à qual Marguerite Duras chegou pelas vias ínvias de narração que ganhou fluência apesar de todas as descontinuidades, estimulada pela feminilidade ou a paixão de ver claro.”
Diário de Notícias
Muito cedo na minha vida foi tarde de mais. Aos dezoito anos era já tarde de mais. Entre os dezoito e os vinte e cinco anos o meu rosto partiu numa direção imprevista. Aos dezoito anos envelheci. Não sei se é assim com toda a gente, nunca perguntei. Parece-me ter ouvido falar dessa aceleração do tempo que nos fere por vezes quando atravessamos as idades mais jovens, mais celebradas da vida. Este envelhecimento foi brutal. Vi-o apoderar-se dos meus traços um a um, alterar a relação que havia entre eles, tornar os olhos maiores, o olhar mais triste, a boca mais definitiva, marcar a fronte de fendas profundas. Em vez de me assustar, vi operar-se este envelhecimento do meu rosto com o interesse que teria, por exemplo, pelo desenrolar de uma leitura.
Podem ler o primeiro capítulo de O Amante, de Marguerite Duras, aqui.
Marguerite Duras (1941-1996) é um dos expoentes máximos da literatura europeia do século XX. Nascida na Indochina Francesa (atual Vietname), onde passou a infância e a adolescência, a autora fica profundamente marcada pela paisagem e pela vida da antiga colónia francesa, frequentemente referidas na sua obra. O seu legado literário é vastíssimo e contempla romances e argumentos cinematográficos, dos quais Hiroshima, meu amor é sem dúvida o mais conhecido e marcante. Foi também realizadora e dramaturga. Em 1984, venceu o prestigiado Prémio Goncourt com O Amante, romance traduzido para quarenta e três línguas e adaptado ao cinema em 1992.
o livro do riso e do esquecimento