Ernest Hemingway, Henry Miller e Jack London enchem as estantes do mundo inteiro e figuram entre os clássicos da literatura que nunca vão deixar de ser lidos. Para além da obra, deixaram um legado mais íntimo: a família.
(...)A história de John contrasta com a de Valentine. Neste caso, o último nome é Miller, herdado de Henry, autor de Trópico de Capricórnio e da trilogia composta por Sexus, Plexus e Nexus. As retrospectivas de vida fazem Valentine sorrir. Guarda recordações idílicas do pai, mesmo dos tempos de pobreza passados no recanto californiano do Big Sur, enquanto a aclamação mundial do escritor não acontecia (retratado
Foi figurante e dupla em cinema, empregada de restaurante, trabalhou em bares e numa loja de souvenirs. Hoje, com 63 anos, rejubila com a eleição de Barack Obama, como boa democrata que é. Quando recorda a sua educação, sente-se uma sortuda, criada num ambiente livre e criativo. "Ele não me dizia o que pensar, mas dava o exemplo. Era simpático e tratava com igual cordialidade tanto os eruditos como as pessoas mais simples." A vida de Henry Miller é um testemunho na carne do que foi o século XX. O escritor nasceu na época das carruagens puxadas por cavalos e viveu para ver o Homem ir à Lua e viajar em jactos privados. Foi uma autêntica testemunha da modernidade.
Mas como reagiria perante a realidade política e social dos nossos dias? Valentine não tem a certeza se o pai gostaria dos dias de hoje, porém não hesita perante a certeza de que se sentiria enojado com a falta de integridade e a ganância do mundo empresarial. No que à política diz respeito, o escritor sempre desconfiou da classe. Já Valentine não alinha pelo mesmo cepticismo. Democrata de longa data, vive, em estado de graça, a eleição de Barack Obama, apesar de recear que este seja assassinado. Entretanto, vai-se entretendo com uma tarefa hercúlea que é dar um destino ao enorme espólio de aguarelas pintadas pelo pai. Henry pintou-as às centenas. Muitas foram oferecidas, outras trocadas por mantimentos durante os tempos do Big Sur. Mas muitas foram-se acumulando numa garagem, em cima de uma mesa de pingue-pongue, em todo o lado.
Passados 25 anos de armazém, Valentine decidiu que era altura de as deixar ir. "Time to let go." Essa é a lógica por detrás do sítio de Henry Miller , onde estão à venda algumas aguarelas da colecção pessoal do escritor. Mas, apesar da dissipação das aguarelas e passados quase 30 anos da morte de Henry, Valentine continua com saudades, principalmente da "voz suave e rica" que mantinha conversas intermináveis.
Leia o artigo na íntegra da autoria de João Luz e publicado no Expresso, no dia 30 de Maio de 2009, aqui.
o livro do riso e do esquecimento