O escritor checo Milan Kundera venceu o 10.º Prémio Reino de Redonda pela “grande qualidade da sua obra de ficção, que reflecte as ambiguidades e contradições dos indivíduos do nosso tempo, tanto em regimes ditatoriais como democráticos”.
O galardão, instituído pelo escritor espanhol Javier Marías, através da editora Reino de Redonda, para distinguir o conjunto da obra de um escritor ou de um cineasta estrangeiro, tem o valor de 3000 euros e atribui igualmente um título nobiliárquico fictício. Assim, Milan Kundera será, a partir de hoje, Duque de Amarcord.
O autor de O Livro do Riso e do Esquecimento foi escolhido para este título como saudação a Fellini e declarou sentir-se “agradecido, honrado e divertido” pela atribuição do prémio, cuja continuidade em 2011 dependerá dos membros do júri, segundo referiu Javier Marías na acta da votação.
Entre outros, o júri desta edição integrava os escritores António Lobo Antunes, John Ashbery, Antony Beevor, A. S. Byatt, J. M. Coetzee, John Elliott, Pere Gimferrer, Claudio Magris, Eduardo Mendoza, Orhan Pamuk, Arturo Pérez-Reverte e Mario Vargas Llosa e os realizadores Pedro Almodóvar e Agustín Díaz Yanes.
Em edições anteriores foram galardoados com o Reino de Redonda J. M. Coetzee (Duque da Desonra), John Elliott (Duque de Simancas), Claudio Magris (Duque de Segunda Mão), Éric Rohmer (Duque de Olalla), Alice Munro (Duquesa de Ontário), George Steiner (Duque de Gerona), Umberto Eco (Duque da Ilha da Véspera) e Marc Fumaroli (Duque de Hoyhnhms).
O Livro do Riso e do Esquecimento, de Milan Kundera, foi considerado pelo Los Angeles Times como um dos 61 livros essenciais da literatura pós-moderna.
Podem consultar a lista completa aqui.
(Via Senhor Palomar e Bibliofilmes)
Na ASA saem dois novos títulos da recém-criada colecção Vintage, que tem como objectivo lançar, em edições cuidadas, grandes obras da literatura mundial. É o caso de A Terceira Condição de Amos Oz, e O Livro do Riso e do Esquecimento, de Milan Kundera. O Primeiro centra-se no conflito entre israelitas e palestinianos, retratado através de Fima, um homem de meia-idade que decepciona muita gente, incluindo ele próprio. Ao longo desta história acompanha-se o reencontro de Fima com a sua condição de judeu errante. O segundo reúne um conjunto de histórias que se interligam na exploração da natureza humana e do mundo tal como o conhecemos no século XX. Uma obra em que a ficção é um pretexto para se falar de memórias autobiográficas e acontecimentos históricos que Milan Kundera viveu na primeira pessoa, na conturbada história da União Soviética.
Se o conceito está na moda para tudo, por que não haveria de estar também para os livros? É o argumento para se reunirem estes três livros – com mais a caminho – sob o mesmo “tecto”: uma Colecção Vintage. O grafismo das capas pisca discretamente o olho ao conceito, mas não é esse o objectivo principal a reter. Aqui, é à intenção que se deve dar valor. Porque no fundo trata-se apenas de um bom motivo para dar nova vida a obras fundamentais de uma selecção cuidadosa de escritores conceituados. Se já temos Sexus – o ponto inaugural da fundamental trilogia Rosa-Crucificação –, O Livro do Riso e do Esquecimento – pano de fundo para toda uma obra de casamento entre humor e reflexão filosófica – e A Terceira Condição – o pulsar mais claro de uma voz que tem tanto de literária como de histórica –, não precisamos de pedir muito mais para que os ventos da moda vintage tenham sido bem aproveitados.
No dia 30 de Novembro de 1980, o The New York Times publicou uma extensa entrevista de Philip Roth a Milan Kundera, a propósito de O Livro do Riso e do Esquecimento. Podem ler o artigo em que este dois pesos pesados da literatura mundial discutem sobre o fim do mundo, o totalitarismo, a liberdade, a literatura, o riso e a sexualidade aqui.
Para ler também a crítica de John Updike a O Livro do Riso e do Esquecimento, publicada no mesmo dia, aqui.
Considerado pelo The Observer como um dos 100 melhores livros de sempre.
Em 1971, três anos após a ocupação do seu país pelos Russos, Mirek – sob vigilância da polícia secreta – tenta recuperar as cartas de amor que escreveu a uma ex-namorada. Marketa e o marido, Karel, têm de lidar com a atitude cada vez mais infantil da mãe de Karel e, simultaneamente, com a amoral Eva e os desejos do passado. Numa pequena escola de Verão francesa, duas raparigas americanas aprendem as lições do riso. Jan, de 41 anos, prepara-se para atravessar diversas fronteiras – geográficas, existenciais e eróticas – para ter uma nova vida nos Estados Unidos. E Tamina, a quem o exílio obriga a trabalhar como camareira, luta desesperadamente contra o esquecimento, que começa a esfumar a recordação do seu falecido marido. A história desta bela exilada contém as verdades fundamentais do livro: a experiência trágica da Primavera de Praga e a vida no mundo ocidental.
Política e erotismo, humor e tristeza, utopia e quotidiano; contrastes que alimentam este “romance em forma de variações”, que é não mais que uma viagem ao coração da existência humana no século XX. Num mundo onde a História pode ser reescrita de dia para a noite e em que o amor pode ser vítima quer da intromissão política, quer da traição pessoal, estas são histórias de homens e mulheres a viver um esquizofrénico quotidiano de opressão pública e desejos privados.
“Uma obra-prima.”
Salman Rushdie
“Uma obra-prima, um dos mais belos romances da segunda metade do século XX.”
António Mega Ferreira, Expresso
“Não há uma verdade mas diversas verdades (ou diversas ‘mentiras’), e Milan Kundera, cavaleiro solitário da arte, proporciona-nos o direito de as pressentirmos, apelando à nossa lucidez… Kundera é um escritor, um artista, não é um dissidente ‘à
Clara Ferreira Alves, Expresso
“Kundera é precisamente um romancista realista e metafísico; de um realismo e de uma metafísica extenuados e dolorosos; e, por esta razão, capaz de lampejos, de intuições penosas, de aparições escaldantes, de centelhas e de espasmos.”
Antonio Tabucchi,
Em Fevereiro, 1948, o dirigente comunista Klement Gottwald subiu à varanda de um palácio barroco de Praga para falar às centenas de milhares de cidadãos aglomerados na praça da Cidade Velha. Foi uma grande viragem na história da Boémia. Um momento fatídico, como acontece uma ou duas vezes por milénio.
Gottwald fazia-se acompanhar pelos camaradas, e ao lado, muito perto, estava Clementis. Nevava, estava muito frio, e Gottwald vinha de cabeça descoberta. Clementis, muito solícito, tirou o gorro de pele que trazia e colocou-o na cabeça de Gottwald.
A secção de propaganda fez centenas de milhares de exemplares da fotografia da varanda de onde Gottwald, de gorro de pele e rodeado pelos camaradas, fala ao povo. Nesta varanda começou a História da Boémia comunista. Todas as crianças conheciam a fotografia, porque a tinham visto nos cartazes, nos manuais ou nos museus.
Quatro anos mais tarde, Clementis foi acusado de traição e enforcado. A secção de propaganda fê-lo desaparecer imediatamente da História e, como é evidente, de todas as fotografias. A partir daí, Gottwald está sozinho na varanda. Onde ficava Clementis há apenas a parede vazia do palácio. De Clementis restou o gorro de pele na cabeça de Gottwald.
Continue a ler a primeira parte de O Livro do Riso e do Esquecimento aqui.
Romancista e ensaísta, Milan Kundera nasceu em Brno, na República Checa, em 1929. Após a publicação de A Brincadeira (1967), que lhe conferiu uma notoriedade imediata, e de O Livro dos Amores Risíveis (1969) (Prémio da União dos Escritores Checoslovacos), é vítima da repressão soviética a seguir ao esmagamento da Primavera de Praga. Os seus livros são interditos, é proibido de trabalhar e perde o direito de publicar. Em 1975, foge para Paris, onde vive desde então, tornando-se cidadão francês em 1981, após lhe ter sido retirada a nacionalidade checoslovaca, como consequência da publicação em França de O Livro do Riso e do Esquecimento.
Toda a sua obra está traduzida em Portugal, nomeadamente, nas Edições ASA, os romances A Identidade, A Lentidão, A Ignorância, A Valsa do Adeus e O Livro do Riso e do Esquecimento, a peça de teatro Jacques e o seu Amo e os ensaios Os Testamentos Traídos e A Cortina. Entre outros prémios, Milan Kundera recebeu, pelo conjunto da sua obra, o Common Wealth Award (1981), o Prémio Jerusalém (1985) e o Prémio Nacional de Literatura da República Checa (2007).
A sua obra A Insustentável Leveza do Ser foi adaptada ao cinema em 1988 por Philip Kaufman e protagonizada por Daniel Day-Lewis e Juliette Binoche. A Brincadeira foi também transposta para o cinema por Milos Forman em 1969.
1964 – Prémio Estatal da República Socialista da Checoslováquia
1969 – Prémio da União dos Escritores Checoslovacos para O Livro dos Amores Risíveis
1973 – Prémio Médicis para o melhor romance estrangeiro publicado em França para A Vida não é Aqui
1978 – Prémio Mondello para o melhor livro publicado em Itália para A Valsa do Adeus
1981 – Common Wealth Award pelo conjunto da sua obra
1982 – Prémio de Literatura Europeia pelo conjunto da sua obra
1984 – Prémio do Los Angeles Times para a ficção para a obra A Insustentável Leveza do Ser
1985 – Prémio Jerusalém pelo conjunto da sua obra
1987 – Prémio da Crítica da Academia Francesa para A Arte do Romance
Prémio Nelly-Sachs
Prémio do Estado Austríaco para a Literatura Europeia
1991 – Prémio de Ficção Estrangeira do The Independent para A Imortalidade
1993 – Prémio Aujourd’hui para Os Testamentos Traídos
1994 – Prémio Jaroslav Seifert para A Imortalidade
1995 – Medalha de Mérito da República Checa pela sua contribuição para o desenvolvimento da democracia
2000 – Prémio Herder da Universidade de Viena
2005 – Prémio de Literatura de Brno
Finalista do Man Booker International Prize 2005
2006 – Prémio Ladislav Kujs da Academia de Letras da República Checa
2007 – Prémio Nacional de Literatura da República Checa
2009 – Prémio Mundial da Fundação Simone e Cino del Duca
o livro do riso e do esquecimento