Para além de O Véu Pintado, que outros romances de Somerset Maugham foram já publicados na Colecção Vintage?
Resposta: Servidão Humana e O Fio da Navalha.
Vencedores:
1 – Neusa do Vale
25 – Alexandra Barata
50 – Sara Paredes
75 – Bruno Lobato
100 – Rute Berquó Cruz
Parabéns aos vencedores e obrigado a todos os participantes.
Para além de O Véu Pintado, que outros romances de Somerset Maugham foram já publicados na Colecção Vintage?
Envie a sua resposta para asavintage@sapo.pt – e se estiver correcta e for a 1.ª, a 25.ª, a 50.ª 75.ª ou a 100.ª a chegar, ganha automaticamente um dos cinco exemplares de O Véu Pintado, de Somerset Maugham, que a ASA tem para oferecer. A data limite é domingo, dia 8 de Maio.
Kitty sente-se prisioneira de um casamento infeliz e de um estilo de vida que está longe de ser aquele que sonhou para si. Sem que tivesse obtido a notoriedade social que desejava e afastada do seu país e da família devido à profissão do marido – bacteriologista destacado para Hong Kong –, a jovem acaba por encontrar algum consolo numa relação extraconjugal. Mas a traição acaba por ser descoberta pelo marido, que leva a cabo uma estranha e terrível vingança…
Através do despertar espiritual da adorável e fútil Kitty, Somerset Maugham pinta um retrato vívido da presença britânica na China e apresenta-nos uma galeria de personagens inesquecíveis.
O Véu Pintado foi por três vezes adaptado para o cinema: em 1934, num filme protagonizado por Greta Garbo; em 1957, com Bill Travers e Eleanor Parker; e em 2006, num filme realizado por John Curran, com Edward Norton e Naomi Watts nos principais papéis.
“Somerset Maugham foi o escritor moderno que mais me influenciou.”
George Orwell
“Um dos meus escritores favoritos.”
Gabriel García Márquez
“É impossível a um escritor da minha geração, se for honesto, ser indiferente à obra de Somerset Maugham.”
Gore Vidal
“Um escritor com uma dedicação tremenda.”
Graham Greene
“O Véu Pintado, com a sua melancolia, a sua tensão moral, a sua ironia e compaixão, a sua evocação crescente de luxúria, terror e arrependimento, é uma obra de arte.”
The Spectator
“Um espantoso romance que através de uma bem caracterizada galeria de personagens questiona habilmente temas intrínsecos à natureza humana… Brilhante!”
A Capital
“Em O Véu Pintado, está patente o enorme domínio narrativo do autor.”
O Independente
“Em O Véu Pintado, Somerset Maugham faz uma magnífica caracterização da presença britânica na China e apresenta, como é seu hábito, uma admirável galeria de personagens.”
Diário de Notícias
Para ler a crítica do suplemento Weekend, do Jornal de Negócios, a O Fio da Navalha, de Somerset Maugham, basta clicar na imagem.
Quando um amigo e colega de combate morre ao tentar salvá-lo, a vida de Larry Darrell muda para sempre. Para o jovem aviador americano, a morte passa então a ter um rosto. O inexorável mistério da morte leva-o a questionar o significado último da frágil condição humana e a embarcar numa obstinada e redentora odisseia espiritual.
Ao recusar viver segundo as convenções impostas pela sociedade para buscar o sentido da vida (que encontrará, certa manhã, algures na Índia), Larry torna-se simultaneamente uma frustração para os que o rodeiam – principalmente para Isabel, a namorada, e Elliott, tio desta, que cultivam acima de tudo a aceitação e o prestígio sociais – e a personificação de um ideal de espiritualidade e não-compromisso.
Por duas vezes adaptado ao cinema, O Fio da Navalha é um romance intemporal. As ansiedades e dúvidas de Larry são também as nossas; continuamos até hoje a buscar um sentido para a nossa existência. Para encarnar essa luta contra o destino, Somerset Maugham criou um dos mais fascinantes personagens do seu vasto legado literário. Da Primeira à Segunda Guerra Mundial, passando pela Grande Depressão, ele leva-nos, através das sociedades francesa, americana e inglesa, à verdade mais recôndita da alma e do sentimento humanos.
“Um dos meus escritores favoritos.”
Gabriel García Márquez
“Um verdadeiro clássico.”
Expresso
“Maugham foi o escritor moderno que mais me influenciou.”
George Orwell
“É impossível a um escritor da minha geração, se for honesto, ser indiferente à obra de Somerset Maugham.”
Gore Vidal
“Uma imensa obra de arte; estimulante, imaginativa e divertida… Um livro fascinante.”
The Times Literary Supplement
“ Somerset Maugham é o escritor perfeito. A sua escrita é tão compacta, tão económica, tão motivada e tão talentosa que prende o leitor da primeira à última página.”
Saturday Review of Literature
“Somerset Maugham é um grande artista…. Um génio.”
Theodore Dreiser
William Somerset Maugham, um dos mais famosos romancistas e dramaturgos ingleses do século XX, nasceu faz hoje 44 anos, em Paris, tendo vindo a falecer no dia 16 de Dezembro de 1965. Filho de diplomatas britânicos, cedo ficou órfão, tendo sido educado por um tio, vigário de Whitstable. Apesar de ter estudado Medicina na Alemanha e em Londres, nunca chegou a exercer, tendo sido, entre muitas outras actividades, condutor de ambulâncias durante a Primeira Guerra Mundial (à semelhança de escritores como Ernest Hemingway) e espião. As suas viagens um pouco por todo o mundo influenciaram profundamente a sua escrita. Em 1928 comprou uma propriedade na Riviera francesa, onde recebeu as mais importantes figuras do mundo literário, social e político da sua época, e que seria a sua casa até falecer.
Entre as suas obras mais conhecidas, contam-se Servidão Humana e O Fio da Navalha (a publicar na Vintage em 2010), considerada duas das obras mais importantes da literatura do século XX.
Considerada a obra máxima de Somerset Maugham, conta a história da formação de Philip Carey, uma espécie de alter ego deste escritor da primeira metade do século XX. É um dos clássicos recuperados neste Natal.
Crítica de Isabel Lucas a Servidão Humana, de Somerset Maugham, publicada no Weekend Económico, no dia 24 de Dezembro.
Uma nova biografia e uma série de reedições alimentam o revivalismo em torno do homem que em tempos foi “o melhor escritor de segunda categoria”. A ASA lança Servidão Humana. Volta, William Somerset Maugham, estás perdoado.
“Não acalento ilusões no que diz respeito à minha posição no universo literário e não albergo ressentimentos em relação a certos críticos brilhantes que escrevem sobre literatura contemporânea e nunca se lembram de mim”, declarou William Somerset Maugham nos anos 20. Por essa altura, já era famoso e parecia ter esquecido que, desde o início da sua carreira, nos primórdios do século XX, lograra o aplauso de sumidades como Virginia Woolf, Elizabeth Bowen, Theodore Dreiser – que muito contribuiu para o sucesso de Servidão Humana –, Rebecca West e Evelyn Waugh, entre outros. O que parecia incomodar o escritor era o facto de a crítica se tornar cada vez mais evasiva à medida que enriquecia, que as suas peças enchiam os teatros e que os seus livros esgotavam edições. Frases como “o melhor escritor de segunda categoria” ou “um contador de histórias eficaz” estigmatizavam a obra de um autor que, para muitos, tratava temas profundos – a angústia existencial, a busca da liberdade, a atracção erótica e o apelo do exotismo – com leviandade e rigidez.
Num artigo publicado no Atlantic em 2004, Poor Old Willie, Christopher Hitchens enunciou sem piedade os clichés na obra de Maugham e relembrou a opinião de Edmund Wilson, que considerava o famoso O Fio da Navalha um amontoado de banalidades. Apesar de tudo, neste final de década do século XXI a obra de Maugham conhece um revivalismo marcante – em Portugal está a ser reeditada pela ASA, que acaba de lançar Servidão Humana e fará chegar às livrarias em 2010 O Fio da Navalha, principalmente depois da adaptação para o cinema de O Véu Pintado (2006) e da publicação de The Secret Lives of Somerset Maugham, a biografia de Selina Hastings, já considerada pelo The Times como a melhor deste ano. Foi também importante a referência directa de V. S. Naipaul em Half a Life (2001), onde começa por contar a história do feliz encontro entre um homem santo da Índia e um escritor, baseando-se na experiência de um Maugham que, nos seus últimos anos, desenvolveu um interesse especial pela espiritualidade oriental, bem explícita
Maugham quis escrever um romance filosófico que desse conta não só da sua experiência desde a infância mas também do seu percurso como pensador.
Somerset Maugham começou a escrever Servidão Humana aos 37 anos como uma espécie de catarse para as suas múltiplas angústias e traumas. O romance, cujo título foi retirado da Ética de Espinosa, surgiu em 1915, depois de quatro anos de trabalho árduo. É uma típica história de aprendizagem iniciática e surgiu numa altura em que os Bildungsroman conheciam um enorme sucesso com autores como Samuel Butler, Arnold Bennett, H.G. Wells, D. H. Lawrence e James Joyce, de tal forma que os críticos de então afirmavam com ironia que não havia escritor que se prezasse que não começasse por contar a sua vida, mais ou menos disfarçada numa trama ficcional.
Maugham cria a personagem de Philip, relatando – com pormenores por vezes demasiado enfáticos – o seu longo caminho da realização pessoal, as tentativas para escapar a uma existência burguesa, acomodada e sem sentido e, mais tarde, a uma relação sórdida e condenada. Philip, à semelhança de Maugham, é um órfão entregue a guardiões mais velhos, estranhos e severos, num ambiente desconhecido e hostil. A primeira parte do livro é dedicada à vida em Blackstable – Maugham viveu em Whitestable – e na escola em Tercanbury – a de Maugham era a King's School em Canterbury – sendo descrito com minúcia o ambiente vitoriano e dickensiano da casa e da escola, com as habituais cenas de bullying – o ponto fraco de Philip é um pé boto, a de Maugham era a gaguez – a mediocridade da maior parte dos professores – ignorantes, preguiçosos, insensíveis, estúpidos –, o tédio da rotina escolar, o sentido de injustiça e a lenta descoberta da identidade.
É agora reeditada a grande obra-prima de Somerset Maugham, um dos livros que marcou definitivamente a literatura mundial do século XX. Para ler com calma
Somerset Maugham teve muitas vidas: para além de escritor, assistiu à terrível transição do século XIX para o XX, e participou na I Guerra Mundial, primeiro como médico e depois como agente. Foi, de resto, enviado para a Rússia, em 1917, para tentar conseguir que os bolcheviques se mantivessem na guerra. Sem sucesso, é claro. Mas por isso não surpreende que o principal personagem de Servidão Humana (aquela que é considerada a sua obra-prima), Philip Carey, rejeita a arte em favor da medicina. É como uma declaração moral sobre a sua própria vida. Ao longo do livro, seguimos a vida de Philip, desde que fica órfão do pai com nove anos e, apesar de herdar uma pequena fortuna, esta é gerida pelo seu tio até ter 21 anos. Nos livros, ele descobre a forma de se evadir do mundo que o cerca. Philip vive, às vezes, num mundo de ficção.
É um rapaz reservado, que vai perdendo a pouco e pouco a sua fé. Apesar do seu talento nos estudos ele deseja abandonar a escola e ir para a Alemanha. Ali conhece dois outros jovens, Hayward e Weeks, que acabam por ter uma forte importância na sua crença. De regresso a Inglaterra, após uma paixão com uma mulher mais velha que não o convence, começa a pensar em estudar arte
Mas esta longa viagem na vida de Philip acaba por ser, para Somerset Maugham, o retrato da vida de muitos de nós. Philip busca o seu espaço de liberdade mas ele é sempre coarctado pelos interesses e ambições dos outros e pelo mundo que não consegue dominar. No choque entre o desejo, a desilusão e a infatigável luta pela liberdade, o grande escritor constrói aqui uma personagem que acaba por sedimentar grande parte da escrita do século XX. Ninguém duvida que muitos dos grandes autores do último século foram beber a este livro o universo de sonho, descrença e melancolia com que polvilharam as suas páginas. A paixão suicida de Philip por Milred, que nunca termina. “Subitamente sentiu um espasmo percorrer-lhe o corpo; à sua frente ia uma mulher que julgou ser Milred. Tinha a mesma figura e caminhava com aquele leve arrastar dos pés que lhe era tão característico. Sem reflectir, mas com o coração acelerado estugou o passo até se colocar ao lado dela, mas quando a mulher se voltou viu que se tratava de uma desconhecida. (…) Não se libertaria nunca daquela paixão?” Os dilemas de Philip são os do comum mortal, presos entre várias escolhas que não controlam. “O seu percurso sempre fora desviado pelo que acreditava que devia fazer e nunca pelo que de todo o seu coração queria fazer. Pôs agora tudo isso de lado com um gesto de impaciência. Sempre vivera no futuro e o presente sempre lhe fugura por entre os dedos. (…) não vira ele também que o padrão mais simples, aquele em que um homem nascia, trabalhava, casava, tinha filhos e morria, era igualmente o mais perfeito?” Este é um livro crucial para compreender os dilemas dos seres humanos nesta sociedade. É uma verdadeira obra-prima.
Crítica de Fernando Sobral a Servidão Humana, de Somerset Maugham, publicada no Jornal de Negócios, no dia 4 de Dezembro.
William Somerset Maugham, um dos mais famosos romancistas e dramaturgos ingleses do século XX, faleceu faz hoje 44 anos. Nascido em Paris, em 1847, filho de diplomatas britânicos, cedo ficou órfão, tendo sido educado por um tio, vigário de Whitstable. Apesar de ter estudado Medicina na Alemanha e em Londres, nunca chegou a exercer, tendo sido, entre muitas outras actividades, condutor de ambulâncias durante a Primeira Guerra Mundial (à semelhança de escritores como Ernest Hemingway) e espião. As suas viagens um pouco por todo o mundo influenciaram profundamente a sua escrita. Em 1928 comprou uma propriedade na Riviera francesa, onde recebeu as mais importantes figuras do mundo literário, social e político da sua época, e que seria a sua casa até falecer.
Entre as suas obras mais conhecidas, contam-se Servidão Humana e O Fio da Navalha (a publicar na Vintage em 2010), considerada duas das obras mais importantes da literatura do século XX.
Reedição de um clássico injustamente esquecido, baptizado com o nome de um dos livros da Ética de Espinoza, que atravessa os grandes temas da condição humana, do livre arbítrio e da relação com o divino. É também um retrato autobiográfico, um romance sobre as consequências das escolhas feitas, e uma anatomia do amor. Philip Carey, adoptado pelos tios, tímido rapazinho com um defeito no pé, vacila na sua crença em Deus e recusa ser pároco. Adulto, viajará por Londres e Paris, perseguindo o sonho de ser escritor, depois pintor, e, por fim, homem amado. A paixão por Milred, criada andrógina e manipuladora, leva-o à ruína, A superação dessa servidão será uma caminhada épica.
Crítica de Sílvia Souto Cunha a Servidão Humana, de Somerset Maugham, publicada no especial livros de Natal, na quinta-feira, na Visão.
Servidão Humana, de Somerset Maugham, é o novo título da colecção “Vintage” da ASA, cujo objectivo é reunir algumas das obras-primas da literatura universal. E esta será seguramente uma delas. Romance de formação, conta a história de Philip Carey, alter ego do autor na sua juventude. Com o objectivo de conquistar a sua independência e descobrir o mundo, muda-se para Paris. Cidade onde a sua vida mudará para sempre, sobretudo depois de conhecer a mulher por quem se apaixona perdidamente.
Crítica do Jornal de Letras a Servidão Humana, de Somerset Maugham, publicada na quinta-feira.
Sendo uma das obras fundamentais da literatura do século XX, Servidão Humana foi por três vezes adaptado para o cinema. A imagem da capa da edição da Colecção Vintage é referente à primeira das adaptações para o grande ecrã, em 1934. O desempenho de Bette Davis no papel de Milred Rogers, contracenando com Leslie Howard (no papel de Philip Carey), valeu-lhe uma nomeação para o Oscar de melhor actriz. A versão de 1946 (no vídeo) contou com Paul Henreid e Eleanor Parker nos principais papéis. Em 1964, uma nova versão foi protagonizada por Laurence Harvey e Kim Novak.
O dia raiou cinzento e tristonho. As nuvens adensavam-se, carregadas, e pairava no ar um frio agreste, prenúncio de neve. Uma criada entrou num quarto onde dormia uma criança e correu as cortinas. Olhou mecanicamente para a casa em frente, de estuque branco com um pórtico, e abeirou-se da cama.
– Vamos, Philip, acorde – disse ela.
Puxando os cobertores para trás, pegou-lhe ao colo e desceu as escadas com o menino ainda semiadormecido.
– A sua mãe quer vê-lo.
Abriu a porta de um quarto no andar de baixo e levou-o até uma cama onde estava deitada uma mulher. A mãe dele. A mulher estendeu os braços e o menino aconchegou-se ao seu lado sem perguntar porque tinham ido acordá-lo. A mulher beijou-lhe os olhos; com mãos magras e delicadas, sentiu-lhe o calor do corpo através da camisa de dormir de flanela branca e apertou-o mais contra si.
– Estás com soninho, meu querido? – perguntou ela.
A voz era tão débil que parecia vir de muito longe. O menino não respondeu, mas sorriu feliz. Era tão bom estar na cama grande e quente, com aqueles braços macios a aconchegá-lo. Tentando fazer-se ainda mais pequenino, aninhado ao lado da mãe, deu-lhe um beijo ensonado e, num instante, fechou os olhos e adormeceu profundamente. O médico aproximou-se e parou junto da cama.
– Oh, não o leve ainda – pediu a mulher num gemido.
Sem responder, o médico fitou-a muito sério. Sabendo que não iam deixá-la ficar com o menino por muito mais tempo, a mulher beijou-o novamente e, com a mão, acariciou-lhe o corpinho até aos pés; em seguida agarrou-lhe o pé direito, acariciou os cinco dedinhos e, lentamente, fez-lhe uma festa no pé esquerdo. Depois soltou um suspiro.
– O que foi? – disse o médico. – Sente-se cansada?
Ela abanou a cabeça, sem conseguir falar, e as lágrimas rolaram-lhe pelas faces. O médico inclinou-se sobre ela.
– Deixe-me levá-lo.
Demasiado fraca para resistir, ela deu-lhe o menino e o médico entregou-o por sua vez à ama.
– É melhor ir deitá-lo outra vez na cama dele.
– Sim, senhor doutor.
A criança foi levada, ainda adormecida, deixando a mãe a soluçar, inconsolável.
– O que vai ser dele, pobrezinho?
A enfermeira tentou acalmá-la e, por fim, o choro cedeu à exaustão. O médico aproximou-se de uma mesa, do outro lado do quarto, onde, debaixo de uma toalha, jazia o corpo de um nado-morto. Levantou a toalha e olhou para ele. Estava escondido da cama por um biombo, mas a mulher percebeu o que ele estava a fazer.
– Era menina ou menino? – perguntou ela baixinho à enfermeira.
– Outro menino.
A mulher não respondeu. Pouco depois a ama voltou a entrar no quarto e aproximou-se da cama.
– O menino Philip não acordou – disse ela.
Houve uma pausa e depois o médico tomou novamente o pulso à paciente.
– Penso que por agora não há mais nada que eu possa fazer – disse ele. – Volto depois do pequeno-almoço.
– Eu acompanho-o à porta, senhor doutor – disse a ama.
Desceram as escadas
– Mandou chamar o cunhado de Mrs. Carey, não é verdade?
– Sim, senhor doutor.
– Sabe a que horas chega?
– Não, senhor, estou à espera de um telegrama.
– E o pequeno? Acho melhor que não esteja por aqui.
– Miss Watkin disse que o levava.
– Quem?
– A madrinha dele. O senhor doutor acha que Mrs. Carey vai recuperar?
O médico abanou a cabeça.
Podem fazer o download dos primeiros capítulos de Servidão Humana, de Somerset Maugham, aqui.
Sendo este romance já bastante longo, sinto até vergonha de o tornar ainda mais longo acrescentando-lhe um prefácio. O autor é provavelmente a última pessoa capaz de discorrer com objectividade sobre o seu próprio trabalho. O distinto romancista francês Roger Martin du Gard conta, a propósito desta questão, uma história exemplar sobre Marcel Proust. Proust queria que determinado jornal francês publicasse um artigo sobre o seu grande romance e, pensando que ninguém seria capaz de o fazer melhor do que ele, sentou-se à secretária e escreveu-o ele mesmo. Depois pediu a um jovem amigo, também escritor, que o assinasse e entregasse ao director do jornal. O jovem assim fez, mas passados alguns dias o director mandou-o chamar. “Tenho de recusar o seu artigo” disse ele. “Marcel Proust jamais me perdoaria se eu publicasse uma crítica tão superficial e contundente sobre a sua obra.” Embora os autores sejam susceptíveis em relação ao seu trabalho e revelem tendência para reagir mal às críticas desfavoráveis, raramente o que produzem os satisfaz, pois têm consciência da incomensurável distância que separa a ideia original da obra a que dedicaram tanto tempo e esforço e, ao pensarem nisto, ficam muito mais contrariados com a sua incapacidade de expressarem essa ideia na íntegra do que satisfeitos com algumas passagens para que podem olhar com complacência. O seu objectivo é a perfeição e estão dolorosamente conscientes de não a terem atingido.
Servidão Humana é um dos romances mais emblemáticos do século XX e a obra-prima de Somerset Maugham. Esta narrativa de entrada na idade adulta conta a história de Philip Carey, alter ego do autor na sua juventude, dividido entre o fervor religioso da família e o desejo de liberdade que os livros e os estudos lhe dão a conhecer. Na sua ânis por independência e aventura, Philip sai de casa em busca de uma carreira como artista em Paris. Mas os seus planos vão ser postos em causa quando se apaixona perdidamente pela mulher que mudará a sua vida para sempre.
Relato inigualável sobre o poder do desejo e da sede de liberdade do homem moderno, Servidão Humana coloca-nos friamente perante a nossa própria visão da vida, as nossas dúvidas e o poder transformador das decisões.
o livro do riso e do esquecimento